Canta:
Teu nome é liberdade.

Tinha falsa lúcidez dos loucos mais não chegaria a enlouquecer, falava em suicídio mas não chegava a se matar.

Le silence éternel de ces espaces infinis m’effraie.
(O silêncio eterno dos espaços infinitos me apavora)

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.

Muitas vidas, Arjuna, tu e eu vivemos; Eu me lembro de todas, mas tu não.
Bhagavad-Gita, IV, 5

Essa noite estive ocupado procurando por algo, fiquei olhando as luzes na janela, os prédios enormes, tantos e tantos prédios.
Acho que nunca mais acharei-a , ela foi se embora durante minha infância, brilhante e luminosa. Sortudos aqueles que puderam vê-la enquanto saudável, era linda e vívida, algo que jamais terei novamente, ainda procuro, mas agora apenas para observá-la, linda e luminosa, ainda vaga viva, eu espero, e sempre esperarei.

É bom quando nossa consciência sofre grandes ferimentos, pois isso a torna mais sensível a cada estímulo. Penso que devemos ler apenas livros que nos ferem, que nos afligem. Se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco no crânio, por que perder tempo lendo-o? Para que ele nos torne felizes, como você diz? Oh Deus, nós seríamos felizes do mesmo modo se esses livros não existissem. Livros que nos fazem felizes poderíamos escrever nós mesmos num piscar de olhos. Precisamos de livros que nos atinjam como a mais dolorosa desventura, que nos assolem profundamente – como a morte de alguém que amávamos mais do que a nós mesmos –, que nos façam sentir que fomos banidos para o ermo, para longe de qualquer presença humana – como um suicídio. Um livro deve ser um machado para o mar congelado que há dentro de nós.


When she was born, Tom was God knows where… with God knows whom. And I asked the nurse if it was a boy or girl. And she said it was a girl and I wept, I’m glad it’s a girl. And I hope she’ll be a fool. That’s the best thing a girl in this world can be. A beautiful little fool. All the bright precious things fade so fast. And they don’t come back.


[]

Esse vazio encontra sua expressão em toda forma de existência, na infinitude do Tempo e Espaço em oposição à finitude do indivíduo em ambos; no fugaz presente como a única forma de existência real; na dependência e relatividade de todas coisas; em constantemente se Tornar sem Ser; em continuamente desejar sem ser satisfeito; na longa batalha que constitui a história da vida, onde todo esforço é contrariado por dificuldades, até que a vitória seja conquistada. O Tempo e a transitoriedade de todas as coisas são apenas a forma sob a qual o desejo de viver – que, como coisa-em-si, é imperecível – revelou ao Tempo a futilidade de seus esforços; é o agente pelo qual, a todo o momento, todas as coisas em nossas mãos tornam-se nada e, portanto, perdem todo seu verdadeiro valor.


Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.