Analisar Disco Elysium como um jogo no sentido us seria uma reflexão no mínimo pobre. A experiência de jogá-lo aproxima-se muito mais de um livro interativo, ordens de magnitude mais responsivo e pessoal que a maioria dos RPGs que se propõem a uma premissa similar, ainda assim, fica clara a intenção dos desenvolvedores em integrar as vantagens e mecânicas tradicionalmente associadas à mídia dos jogos, dentre as quais as roupas, habilidades e rolagens de dado são alguns exemplos que expandem muito o role playing e nem parecem ser elementos de gameplay .
Além disso, é muito incomum ver jogos com um teor político-filosófico tão forte em um formato usualmente associado à simplicidade e entretenimento como um fim em si. E, a todos que reclamam do jogo "vangloriar" ideologias, ignorando completamente a irrelevância do seu próprio pensamento na qualidade de qualquer obra, por favor, pare de ser ignorante e perceba a clara intenção dos criadores de tecer críticas quase caricatas a todas teorias debatidas, salvaguardando suas próprias opiniões à interpretação do jogador, haja vista os estudantes comunistas tentando construir sua torre de caixas crentes de um pensamento tão absurdo de "vontade materializada" que o próprio jogo chama de estupidez. Mesmo assim, todas as missões políticas servem para ainda mais reiterar a decadência de Revachol e a repulsa ao niilismo que os seguidores de cada pensamento portam ao seguir suas crenças na esperança de lidar com a miséria do mundo social e o Pálido crescente. No seu caso, tentativa enfrentamento absurdista do supracitado passa pela bebedeira desenfreada que te presenteou com amnésia (um clichê comum para inserir o jogador no aprendizado do universo do jogo, mas muito bem executado).
Ademais, a investigação é permeada de ótimos personagens, comédia pontual e muito boa que combina com a sua liberdade de ser um policial em frenesi com estilo questionável, habilidades que personalizam cada run como única e escolhas de diálogos bem distintas que fazem diferença no desenrolar da narrativa.
Em suma, este jogo é uma obra excepcional, e, embora nem tenha debatido a história em si, certifique-se de que ela é boa e engajante. É, sem dúvida, umas das melhores obras que já experienciei e recomendo a todos interessados a jogarem, mas que entendam que não é fácil de ser consumida e que, caso não tenham paciência, esperando um rpg como outros disponíveis no mercado, terão dificuldade de apreciar a história de Raphaël Ambrosius Costeau.
Ou seja, é bão demais.
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